Por João Alberto Capiberibe
A análise dos gastos e do desempenho da educação no Amapá me fez lembrar uma frase de Luther King:
“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!”
No caso em tela, revelo os bons, aqueles e aquelas que mergulhados no silêncio e no conformismo pagam duas vezes, ao Estado e a iniciativa privada, para que seus filhos possam receber educação formal com um mínimo de qualidade.
Um dia desses, numa reunião no Renascer, bairro da periferia de Macapá, informei aos presentes que a Prefeitura da cidade dispunha de R$ 270 por mês para gastar com a manutenção de cada criança na rede municipal e indaguei:
- Quem dos presentes tem filhos matriculados em escola particular?
- Eu tenho um filho que freqüenta a 6° série, respondeu uma senhora.
Em seguida, perguntei-lhe se era empregada e quanto pagava de mensalidade.
- Sou professora, servidora pública concursada do Estado, pago R$ 240 mensais.
Voltei à carga com uma nova pergunta:
- Quanto à senhora descontou de imposto de renda no mês passado?
A professora, meio sem jeito, respondeu-me que não sabia. Então lhe pedi, caso estivesse com seu último contracheque na bolsa, que desse uma olhada.
Não demorou a encontrar, visivelmente surpresa, leu e comentou.
- Puxa! Descontaram R$ 370 no mês passado, é muito. E pensar que o imposto de renda é apenas um entre tantos que somos obrigados a pagar. Confesso que não tinha-me tocado. Como se não bastasse, ainda tenho que pagar R$ 240 para meu filho freqüentar a escola que o governo deveria oferecer gratuitamente. É demais! Exclamou.
Voltei a perguntar-lhe, sendo professora de escola pública, porque então a senhora matricula seu filho na escola particular?
- O senhor sabe…, é a qualidade do ensino, a escola privada é mais exigente, o aluno aprende mais.
- Mais os professores não os mesmos da escola pública? Insisti.
- Sim são os mesmos, porém o esforço é menor porque ninguém cobra desempenho, não existe qualquer exigência de qualidade.
Daí em diante, os presentes intervieram e o debate se prolongou por mais de uma hora. Todos ficaram de queixo caído, ao saber que a prefeitura de Macapá dispõe de mais recursos para gastar com seus alunos, do que seus concorrentes de escolas privadas.
Também causou surpresa, que uma professora do sistema público de ensino não confiasse na escola onde trabalha para educar seu próprio filho.
Finalmente se estabeleceu o consenso, o problema da educação pública é político. O dinheiro do contribuinte nas mãos dos gestores públicos, sem qualquer controle social, está sendo mal gasto.
Ao invés de virar as costas para a escola pública, é preciso se aproximar dela. Envolver a comunidade escolar em um amplo debate, capaz de identificar soluções que melhorem a aplicação dos recursos disponíveis, financeiros e humanos, e assim dar respostas aos anseios por uma educação pública de qualidade em Macapá e em todo o país.
(*)João Alberto Capiberibe, 61 anos, ex-preso e exilado político, ex-prefeito de Macapá (AP), ex-governador e ex-senador do Amapá, é vice-presidente nacional do PSB.
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