domingo, 20 de abril de 2008

Lugo encerra campanha falando em 'ressurreição' no domingo



O ex-bispo católico Fernando Lugo, candidato à Presidência do Paraguai nas eleições deste domingo, encerrou sua campanha na noite da quinta-feira com um discurso no qual falou em “fé” e afirmou que o dia da votação será o dia da “ressurreição”.

“Domingo é o dia da ressurreição e o dia da nossa eleição. E vamos ressuscitar neste domingo”, disse Lugo, pedindo que “Deus abençoe o Paraguai”.

Lugo afirmou ainda que faltam “só três dias” para a saída dos que “seqüestraram os sonhos dos paraguaios” – uma referência ao Partido Colorado, no poder há 61 anos.

A candidatura de Lugo, que aparece há meses como favorito para as eleições nas pesquisas de opinião, pode estar perdendo força na reta final, segundo os levantamentos divulgados no último fim de semana.

Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), ainda aparece como o preferido dos eleitores, mas a margem sobre os demais candidatos parece estar caindo, trazendo mais incertezas sobre os resultados nas urnas.


Retorno

No palanque, na noite de quinta-feira, Lugo prometeu que, se eleito, os paraguaios que vivem no exterior retornarão ao país porque terão mais oportunidades.

No ano passado, segundo dados oficiais, como disse à BBCBrasil o ex-ministro da Economia do atual governo, Dionísio Borda, professor da Universidade Nacional, 5 mil paraguaios deixaram o país por mês, apesar das taxas de expansão da economia.

Professor numa escola rural em San Pedro, onde cresceu e foi bispo, Lugo entrou para a política em 2006 em meio às discussões de que o atual presidente, Nicanor Duarte Frutos, do Partido Colorado, pretendia reformar a Constituição para tentar a reeleição.

No Paraguai, o mandato é de cinco anos, sem direito a reeleição.

“Centro do poncho”

Apoiado por diferentes setores, ele formou uma frente de centro-esquerda que reúne o tradicional PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico) e movimentos sociais de esquerda.

Lugo costuma se definir como de centro – “sou o buraco no centro do poncho”, diz em referência à roupa típica que usou várias vezes na campanha.

Num fato inédito para a história dos “colorados”, ele conta com apoio de alguns segmentos do partido e costuma lembrar que seus pais eram colorados.

Lugo tem fama de conciliador, como observou Borda, simpático à candidatura de Lugo e que lidera um dos principais think-thank do país, o Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguai (Cadep).

“Lugo é a cara do outro Paraguai: desigual e esquecido. E ele pode ajudar o país a sair desta encruzilhada”, afirmou.

Conciliador

A fama de Lugo, nos bastidores da diplomacia dos países vizinhos, é a de quem “tenta conciliar” com os diferentes setores e evita usar “agressividade” quando é atacado.

Mesmo entre os que o admiram afirma-se que o difícil, caso ele seja eleito, será administrar uma coalizão “tão ampla e com tanta gente tão díspar”.

Lugo liderou as pesquisas de opinião durante toda a campanha. Nos últimos dias, ele tem reiterado sua preocupação com a possibilidade de que ocorram fraudes.

Quase diariamente, os principais jornais, emissoras de rádio e de televisão do país revelam histórias de pessoas mortas que continuam com nome entre os eleitores vivos e de cédulas – de papel – que poderiam ter sido marcadas.

No Paraguai, as eleições de 2003 foram com urnas eletrônicas, mas a desconfiança de setores da oposição levaram ao retorno do uso do papel.

Itaipu

Na plataforma de campanha de Lugo, destacam-se bandeiras como o combate à corrupção, reforma agrária e o pedido de revisão do tratado da hidrelétrica de Itaipu, assinado em 1973 com o Brasil.

Além de compromissos como a redução da pobreza, o fim da febre amarela e que os paraguaios, na pobreza ou abaixo dela, possam comer pelo menos uma vez por dia.

Sua campanha conquista adeptos principalmente entre os que vivem em San Pedro e nas áreas urbanas.

Sua candidatura foi alvo de críticas principalmente do atual presidente, Nicanor Duarte, que fez duras acusações contra ele, incluindo a de que teria “explosivos” que usaria caso não seja eleito domingo. “São acusações falsas que fazem parte da guerra suja”, limitou-se a responder Lugo.

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