terça-feira, 6 de maio de 2008

Ruy Smith diz não ter encontrado no trabalho os médicos escalados para os plantões

Paulo Silva (Jornal do Dia)

Dois anos após algumas denúncias sobre pagamentos de plantões médicos " fantasmas" na rede pública de saúde do Estado, nenhuma mudança parece ter ocorrido. Médicos do contrato, do quadro federal e do Estado continuam ganhando até R$ 17 mil por mês, referente a escalas de plantão médico e de sobreaviso (ganha para ficar em casa, aguardando ser chamado) A denúncia foi feita ontem, na Assembléia Legislativa do Amapá, pelo deputado Ruy Smith (PSB). O parlamentar apresentou documentos que, segundo ele, comprovam o significativo volume de recursos gastos pelo governo do Estado com alguns médicos.

De acordo com a escala de plantão referente ao mês de março, apresentada por Ruy Smith, no setor de neurocirurgia do Hospital de Especialidades (HE), por exemplo, os médicos Luiz Alejandro Cadena, Dorimar dos Santos Barbosa e Paulo Roberto de Carvalho Costa dividiram os plantões médicos e sobreavisos, recebendo cada um mais de R$ 17,5 mil naquele mês.

Os três também são sócios em uma clínica particular. De acordo com a escala, assinada pelo próprio Alejandro, no período de 1º a 10 de março, ele (Alejandro) e Dorimar, trabalharam 48 horas seguidas dentro daquela casa de saúde por dois finais de semana seqüentes e ainda foram mantidos no plantão de segunda a sexta-feira. Além dos plantões noturnos nos dias úteis eles realizam (ou deveriam realizar) atendimento médico das 8 às 13 horas.

De acordo com o deputado, mesmo parecendo absurdo, Dorimar dos Santos foi ainda mais longe. O médico conseguiu permanecer no hospital do dia 1º ao dia 20 na escala diária de plantão, que correspondem a três finais de semana seqüentes sem sair do HE. Ainda de acordo com a escala, só o médico Paulo Carvalho teve a mesma disposição. Ele entrou nos plantões médicos dia 11, permanecendo até o dia 31. Já Alejandro retornou dia 21 permanecendo também até dia 31.

No ultimo dia 29 de março, sábado, deveriam estar de plantão no HE os médicos Paulo Carvalho e Alejandro. Na portaria do hospital a atendente informou que apenas o médico de sobreaviso, Paulo André, se encontrava presente. Segundo a funcionária, Alejandro é encontrado no HE as terças e quintas-feiras, a partir das 16 horas, e Paulo Carvalho às sextas-feiras depois das 14 horas. A servidora disse ainda que era mais fácil encontrá-los na clinica particular onde atendem.

No dia seguinte, domingo (30), conforme Ruy Smith, a informação prestada foi a mesma, ou seja, que os médicos mesmo de plantão não estavam no hospital. O deputado disse ter apurado que a lista de médicos privilegiados com a " farra" de plantões inclui outros nomes como: Alberto Bezerra Pacheco, Ary César Peixoto, Cláudio Albuquerque, Ivani da Costa Coelho, João Henrique Souza Dias (ex-diretor do HE), Luciana Monteiro e Mario Nazareno Teixeira. O ex-diretor do HE teria recebido, além do salário e da gratificação pelo cargo, mais R$ 13,9 mil de plantões e sobreavisos.

Sem contar a folha de pagamento, o governo do Estado, afirma Ruy Smith, através da Secretaria de Saúde, irá desembolsar R$ 1.780.300,00 com pagamento de plantões e sobreavisos referente ao mês de março. Até o final do ano serão R$ 21.363.600,00 somente para pagamento desses serviços. O montante de recursos no final do exercício também é superior ao orçamento de várias secretárias de governo, entre elas a de Segurança Pública.

A denúncia provocou a reação até mesmo de deputados da base aliada do governo. Jorge Salomão (DEM), que presidia a sessão, disse que enquanto isso a população não encontra médicos nos hospitais do governo. Salomão solicitou a Smith que os documentos fossem enviados à mesa e também a imprensa. Já o deputado Manoel Brasil propôs a ida do secretário de Saúde do Estado, vice-governador Pedro Paulo Dias, a Assembléia para esclarecer essa situação. Ruy Smith defendeu os médicos que trabalham e recebem honestamente pelos plantões realizados. No entendimento do parlamentar seria justo defender o aumento no valor dos plantões e sobreavisos, porém não admissível receber pelo trabalho que não foi prestado.

Secretário diz que pagamento dos plantões é feito por necessidade

De Belém, onde participou de reunião da Sudam, o secretário Pedro Paulo Dias de Carvalho falou com o JD sobre as denúncias de Ruy Smith. Ele contestou os dados apresentados pelo deputado, afirmando não existir nada de exagero no pagamento dos plantões. " Eu assino as escalas, e o que está sendo pago aos médicos e por pura necessidade, pois não temos profissionais suficientes no Estado para diminuir ou até acabar com os plantões" , esclareceu.

Segundo Pedro Paulo, a secretaria da Saúde paga R$ 500 por cada plantão presencial e R$ 200 pelo plantão de sobreaviso. " Em vários casos, pelos poucos médicos que temos para algumas especialidades, pago 15 ou 18 plantões presenciais por mês, mas o profissional trabalha os 30 dias" , explica. No caso dos neurocirurgiões, Pedro Paulo disse que uma resolução do Conselho Regional de Enfermagem veda a presença de técnicos de enfermagem acompanhando os médicos em casos de cirurgia, daí a necessidade de chamar outro médico para o acompanhamento.

Em certos casos, revelou o secretário, a Sesa tem apenas um ou dois profissionais médicos para determinada especialidade, citando os casos de cirurgiões vasculares (apenas dois) e cirurgiões pediatras (apenas um), levando o órgão a pagar plantão presencial, mesmo que as vezes médico não esteja na unidade. " Mas ele pode ser acionado a qualquer hora" , explicou Pedro Paulo, acrescentando que o problema será resolvido quando o Estado contar com número de médicos suficientes para todas as especialidades.

O secretário informou ter tratado em Belém de um programa para a realização de cirurgias bariátricas através de laparoscopia no Amapá. Ele acertou com o cirurgião Fábio Araújo, que estará em Macapá no próximo sábado tratando do assunto com médicos amapaenses. Existem mais de 270 pessoas, muitas delas pesando mais de 170 quilos, aguardando por este tipo de cirurgia. Pedro Paulo também manteve contato com cirurgião vascular para operar pacientes que precisam passar por hemodiálise.

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